Um homem foi ao encontro de Sócrates levando ao filósofo uma informação que julgava de seu interesse:
— Quero contar-te uma coisa a respeito de um amigo teu!
— Espera — disse o sábio. Antes de contar-me, quero saber se fizeste passar essa informação pelas três peneiras.
— Três peneiras? Que queres dizer?
— Devemos sempre usar as três peneiras. Se não as conheces, presta bem atenção. A primeira é a peneira da VERDADE. Tens certeza de que isso que queres dizer-me é verdade?
— Bem, foi o que ouvi outros contarem. Não sei exatamente se é verdade.
— A segunda peneira é a da BONDADE. Com certeza, deves ter passado a informação pela peneira da bondade. Ou não?
Envergonhado, o homem respondeu:
— Devo confessar que não.
— A terceira peneira é a da UTILIDADE. Pensaste bem se é útil o que vieste falar a respeito do meu amigo?
— Útil? Na verdade, não.
— Então, disse-lhe o sábio, se o que queres contar-me não é verdadeiro, nem bom, nem útil, então é melhor que o guardes apenas para ti.
O mais sábio dos homens
Sócrates nasceu em Atenas, no subúrbio de Alopeke, 469 anos antes de Cristo. Seu pai era escultor e sua mãe, parteira. O método socrático, como desde antigamente se observou, tinha um pouco das qualidades das profissões de seus pais. Sócrates não impunha o conhecimento, mas à maneira da profissão materna, ajudava para que ele viesse à tona de dentro do discípulo, que o produzia por si mesmo. Sua arte de dialogar, conhecida como maiêutica, provocava aquilo que ficou conhecido como "a parturição das idéias". Por outro lado, sua intenção era a formação autônoma da pessoa. Era converter, à maneira da profissão paterna, uma massa natural e sem forma em uma bela representação individual do espírito. Daí resultava que o conhecimento primordial do homem deve ser o conhecimento de si mesmo.
Embora, pelo que se supõe, não tenha sido discípulo de nenhuma escola filosófica específica, Sócrates certamente sabia de sua existência e compreendia o alcance de suas doutrinas. Sua formação era inata, pessoal, superando o conhecimento de outras escolas doutrinárias provavelmente através de profunda meditação.
Havia em Delfos um templo dedicado ao deus Apolo, onde a sacerdotisa Pítia formulava oráculos, predizendo o futuro aos que o consultavam. Conforme narra Platão em sua Defesa de Sócrates, foi o oráculo de Delfos que um dia afirmou a Querofonte não haver "ninguém mais sábio do que Sócrates". Sócrates tomou isso como uma orientação divina pela qual pautou toda sua vida, dedicando-se incessantemente à tarefa de educador e mestre.
A exposição da concepção lógica e moral de Sócrates é inseparável da narração dos fatos de sua vida, pois sua vida foi a realização, passo a passo, de sua filosofia.